CARTA A TODOS OS QUE SE PREOCUPAM COM A CULTURA
Vimos, por este meio, informar a todos aqueles que acreditam na cultura e na arte como alavanca para o progresso das sociedades, que foi conhecido mais um caso aberrante de proscrição de um projecto artístico que tem vindo a desenvolver o seu trabalho desde 1996.
A Companhia Projecto Teatral, formada há precisamente 10 anos por uma equipa profissional de actores e artistas plásticos, pertencente já ao grupo de estruturas subsidiadas pelo Ministério da Cultura / Instituto das Artes, ao esperar pela prorrogação do subsídio bianual, recebeu uma carta assinada pelo sub-director do instituto, Orlando Farinha, em nome do actual director Jorge Vaz de Carvalho, dizendo que lhe iria ser cortado o subsídio para os próximos dois anos 2007/2008.
Os argumentos que usaram para a "decapitação" desta estrutura foram argumentos falaciosos e suspeitos, como o da companhia "não se dedicar a projectos de teatro".
Esta consideração, vinda de uma comissão de avaliação de teatro do instituto de maior relevo para as artes, é demasiadamente subjectiva, infundada e perigosa e merece ser debatida por uma comissão mais alargada de indivíduos especializados.
Questionamo-nos se essa comissão do instituto composta por três júris dos quais a maior parte não vê os trabalhos e desconhece o percurso das companhias que trabalham numa continuidade (por razões até que se prendem com a própria efemeridade dos seus cargos), poderá, de um momento para o outro e sem convocar uma audiência prévia (o que, por si só já é um acto que a lei não prevê), decidir a vida de um projecto sério e dedicado, profissional e um dos mais importantes dinamizadores de um pensamento sobre o teatro como disciplina artística.
Como ele existem outros em toda a Europa que, ao contrário deste, são acarinhados pelos governos.
Como este projecto, existem muitos outros na História das Artes que reflectem, sem complexos, as próprias áreas em que se inserem, tanto na música (como por exemplo o conhecido John Cage ou a luso-catalã Constança Capdeville), no cinema (Goddard, porque não? Ou o actualíssimo português Pedro Costa), nas artes plásticas (muitos teríamos de nos lembrar mas o Duchamp parece-nos ser um dos ex-líbris deste tema) como na dramaturgia (por exemplo, o modernista Samuel Beckett).
Sem os apoios governamentais quase todos eles não teriam existido ou pelo menos não teriam sido tão divulgados e hoje, certamente, não fariam parte do nosso imaginário.
Esta decisão, que achamos negligente e contraditória, faz-nos interrogar mais uma vez sobre os reais critérios de avaliação do Instituto das Artes e objectivos dos subsídios do Ministério da Cultura:
Para que servem afinal os apoios estatais para a cultura?
Não serão para fomentar valores artísticos e culturais que, de outra forma, não teriam lugar?
Ou apenas se dirigem a projectos de sucesso adquirido cujo principal objectivo não é o da reavaliação e questionamento desses mesmos valores mas sim o de angariar o maior número de receitas de bilheteira?
Por isso, achamos que uma decisão destas jamais poderá ser tomada de uma forma leviana e inconsciente!Como é possível que em 2006 possam haver questões tão primárias como esta?
Como aprovar esta atitude?
Como compactuar com este episódio igualmente primário e tão pouco democrático em amputar uma companhia de mérito, que exerce serviço público há cerca de uma década e que tem representado Portugal no estrangeiro, para além de ter recebido o prémio Acarte / Maria Madalena Azeredo Perdigão pelo seu trabalho «Teatro» em 2003?
Nós, que redigimos esta carta, não compactuamos com atitudes como esta, reveladoras de uma mentalidade pobre e vazia sobre a arte e a sociedade em geral e esperamos que, ao tornar pública esta notícia, haja um número considerável de pessoas que pensem como nós e que, ao subscreverem esta carta, estejam a lutar igualmente por uma política cultural eficaz e pertinente.
Apelamos, então, a todos os artistas portugueses e estrangeiros que residam em Portugal e no estrangeiro, assim como a todos os programadores, jornalistas e cronistas, como a todos os simpatizantes que acreditam na diversidade de propostas culturais e no enriquecimento que estas imprimem na identidade cultural de um país, que assinem esta petição de forma a demonstrar o descontentamento que esta atitude provocou na classe artística portuguesa.
Salientamos que este é só mais um caso de limpeza, entre outros, e o primeiro de muitos que estarão para vir a projectos que não se destinam às "grandes massas" mas que têm uma função específica de formação de mentalidades tão importante para o crescimento intelectual e artístico de uma sociedade.
Ass.: Grupo de Artistas
www.petitiononline.com/teatral/petition.html
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