Artistes et Créatifs/Artistas e Criativos/Artists and Creatives/Artistas y Creativos

5/16/2007

«Subsidiem-me» visto pela crítica portuguesa


«Dança: Companhia Lua no Instituto Franco-Português

Criador Diniz Sanchez pede que o deixem trabalhar

A Companhia Lua estreou esta semana, no Instituto Franco-Português em Lisboa, o espectáculo ‘Subsidiem-me’, protagonizado pelo seu bailarino, coreógrafo e director, Diniz Sanchez.
Formado pela Escola Superior de Dança e pelo Centre Choréographique National de Montpellier, desde 2003 que Sanchez tem repartido a sua actividade artística entre Portugal e França, tentando estabelecer uma ponte entre ambos os países.
Composto por um curioso trio de peças, este ‘one man show’, para além de um título, em simultâneo provocatório e humorístico, parece consubstanciar muita da dança que hoje vemos em Portugal. Não pela forma mas, sobretudo pelos conteúdos.
Em ‘M.A.’, abreviatura para Maria Antonieta, o coreógrafo aborda a História francesa de uma forma divertida, ao som de Bach, com trajes de época, maneirismos e clichés, de um modo andrógino e afectado.
A peça ‘Jukebox’ parte de uma ideia tão contemporânea como irónica, colocando-se o “improvisador de serviço” à disposição do público. Uma sucessão de quatro solos foi criada no momento, após alguns voluntários subirem ao palco e escolherem a música de uma lista e alguns figurinos pendurados em cena. Houve mesmo quem optasse apenas por indicar umas botas de ténis vermelhas e um tutú clássico. Sanchez dançou nu sobre uma música com sonoridades étnicas.
Com um título roubado a Jean Genet – ‘Nossa Senhora das Flores’ – e com mais Bach a acompanhar, enquanto vai colando flores na sua pele, o artista desfia um rol de provocações e angústias, abordando de um modo ácido a sua condição de criador em Portugal. O bailarino relata, com acutilância, as peripécias por que passou para tentar colocar no mercado as suas criações. Trata-se de um manifesto artístico e político cheio de verve, muito inteligente e espirituoso que deveria chegar não só ao Instituto das Artes mas, sobretudo, ao Ministério da Cultura.
Este grito de alerta pretende ir muito além de tudo o que se mostra em cena, uma vez que o coreógrafo, que também é o produtor da sua companhia, há anos que se vem esforçando por trabalhar no nosso país de uma forma digna e compensadora.
‘Subsidiem-me’, que estreou em 2006 em Toulouse, segue no próximo mês para Espanha e França, onde fará novas apresentações.
Por enquanto, estabeleceu sede no Montijo e procura, desesperadamente, palcos públicos e privados onde se possa apresentar em Portugal.

António Laginha»


Artigo publicado no Correio da Manhã de 14 de Maio de 2007 (página 43)


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