Artistes et Créatifs/Artistas e Criativos/Artists and Creatives/Artistas y Creativos

3/13/2007

Teatro Nacional de São Carlos e Paolo Pinamonte!

Exmo. Sr. Director do “Expresso” e Sr. FILIPE S. COSTA:

Venho, por este meio mostrar a minha estranheza pela forma como saiu a público a página que co-escreveu com JORGE CALADO e NUNO SARAIVA sobre a actual situação do Teatro Nacional de S.Carlos (TNSC) e do director, Paolo Pinamonte.

Como leitor do Expresso considero uma perfeita aberração a deificação de um gestor artístico italiano que, independentemente da sua inteligência e profissionalismo, recebe só de “subsídio de aluguer”, grosso modo, o equivalente a cinco salários mínimos.
Já para não falar da exorbitância do seu ordenado – muito superior ao do Presidente da República, Primeiro-Ministro e Deputados – mais outros “acrescentos” suplementares e, segundo consta no meio, também bons negócios nas contratações de imensos artistas estrangeiros em cada temporada.
Assim sendo, se faz bom trabalho, mais não faz que justificar a fortuna que os portugueses lhe pagam mensalmente com os seus esforços e o seu próprio trabalho.
O contrário é que seria de estranhar, como é o caso do turco, director artístico da Companhia Nacional de Bailado e do programador belga do Teatro Camões, cujos resultados práticos nenhum jornalista do “Expresso” se atreve a comentar!

Tudo isto porque parece que a “colonização” cultural está na moda – Pinamonte até foi para Paris apresentar a temporada do S.Carlos na “cidade-luz” ao lado da fadista Mísia – e o deslumbramento não pára de crescer! Chega de novo-riquismo e presunção quando a maioria dos cantores portugueses andam a ganhar a vida cantando em jantares-concerto e a fazer recitais em teatros que, quantas vezes, nem aquecimento e condições mínimas de trabalho possuem.
Muita gente haverá que discorda do facto de muito poucos cantores portugueses, hoje, terem acesso ao palco do S. Carlos que, segundo creio, ainda não deixou cair a palavra “Nacional” nem deixou de viver à conta dos impostos de todos os Portugueses. Os mesmos que elegem o governo que, por sua vez, deixa portugueses desempregados para contratar estrangeiros!

Mas essas pessoas os senhores jornalistas não foram ouvir!

Quanto ao Professor Jorge Calado, que apelidou Pinamonte de “príncipe perfeito”, melhor seria que se deixasse de exageros literários – a sua crítica de Wozzeck assim o demonstrou - e defendesse não só a qualidade de tudo o que se apresenta no S. Carlos, mas também mostrasse uma centelha de patriotismo e confiança nos seus compatriotas. A sua crítica, nas páginas do “Expresso”, ao último recital de Elizabete Matos, na Gulbenkian, revelou-se de uma inusitada crueldade e requintes de malvadez fora do comum. Se os nossos cantores são assim tão maus e incompetentes o Dr. Calado bem pode voltar para os Estados Unidos e escrever para o “New York Times” sobre as “saisons” do Met, que os leitores e público português, possivelmente, não darão pela falta!

Já agora, sugere-se a todos os que deram depoimentos ao “Expresso” sobre a “excelência” do trabalho de Pinamonte ir ouvir Mísia miar “em grande estilo” na operita-tango que o S. Carlos vai apresentar no próximo Verão. Talvez Dulce Pontes, que nunca cancelou concertos (no CCB) por falta de público e já cantou Piazzolla em muitas ocasiões pudesse alternar com Mísia para se ver a diferença! E veremos se Jorge Calado, na força do estio, não mete férias!

Quanto às condecorações do Dr. Jorge Sampaio é melhor nem falar. Se elas tivessem mostrado um pouco mais de critério, seguramente que não teriam beneficiado a directora geral da Companhia Nacional de Bailado (CNB), Ana Caldas, que nunca fez nada em prol da dança e tem por justificar um buraco de 3,6 milhões de Euros e uma muito esperada acusação de abuso de poder e má gestão pelo Ministério Público.

Pelo testemunho de Marcelo R. de Sousa – o homem que tudo sabe a nada lhe escapa – ficámos a saber que Pinamonte está de abalada (apesar das pressões financeiras do grande capital mecenático) e que o MC parece ter a situação sob controle.
É verdade que a coisa tem sido mantida em segredo e que o actual Secretário de Estado da Cultura, Mário Vieira de Carvalho – um homem cuja tese de Doutoramento visou o TNSC – deve ter algo na manga. A fazer fé nas palavras do professor Marcelo o OPART trará muitas novidades para a ópera.
Já para a Dança – com a volta da CNB para a alçada do S. Carlos e a mediocridade artística e de gestão - as dúvidas mantêm-se. A avaliar por todos os disparates que se têm feito nos últimos seis anos na nossa única companhia nacional de dança e não sendo nem a Sra. Ministra nem o SEC especialistas na matéria, o futuro parece muito incerto.

Será que, saindo Pinamonte, Portugal é um país tão miserável culturalmente que não tenha um único cidadão PORTUGUÊS, HONESTO, CULTO E COMPETENTE, que possa dirigir os destinos da nossa primeira (e única) “casa da ópera”?
Ou será que todos aqueles que, há anos, salivam no bar do S. Carlos nos intervalos da récitas das ópera, pelo gabinete da direcção – e são tantos – agora vêm, com o habitual cinismo e má fé, cantar loas a Pinamonte quando sabem que opções não lhe faltam e que o seu destino parece já estar traçado?

Termina, assim, o último vestígio do Comendador Sasportes nas instituições culturais portuguesas. E isso, certamente, pode servir de consolo para muitos portugueses.

Quanto à ópera – que não possui uma única companhia estável nacional - e à dança portuguesa (que viu extinguir-se, o ano passado, o Ballet Gulbenkian e, nas últimas semanas, duas companhias mais pequenas) … que Deus tenha piedade de nós!, Já que os homens… outros interesses (e negociatas) parecem mover.



António Laginha

Antigo artista do TNSC



Carta recebida por e-mail da parte de Lydia Martinez

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